"Síntese é a evolução final de toda a vida"

uma análise sobre imaginários do futuro de humanos e máquinas a partir de Mass Effect

Resumo

Resumo: Este ensaio pretende analisar como são construídas projeções e concepções sobre o futuro, tomando como objeto o jogo digital Mass Effect. À luz da obra do filósofo Gilbert Simondon, demonstraremos que as perspectivas apresentadas no jogo, tanto em seu decorrer quanto em seu desfecho, são permeadas de representações contestáveis em relação ao progresso tecnológico, ora considerando-o como inerentemente hostil (tecnofobia/destruição), ora enquanto mera utilidade e extensão das ambições humanas (tecnofilia/controle). Além disso, buscaremos discutir como a saída encontrada pelos desenvolvedores a essa suposta escolha de Sofia não constitui, de fato, um contraponto à visão dual entre tecnofobia e tecnofilia. Afinal, a suposta síntese entre orgânicos e sintéticos, proposta por essa terceira via, não pressupõe nenhuma modificação substancial na relação desequilibrada entre cultura e técnica, e acaba corroborando, tal qual os outros desfechos, para um imaginário de competição entre o humano e a máquina.

Abstract: This essay seeks to analyze how narratives and conceptions about the future are constructed, based on the example of the Mass Effect digital game. In light of the philosopher Gilbert Simondon's work, we demonstrate that the perspectives presented in the game, both in its course as in its outcome, are permeated with contestable representations in relation to technological progress, now considering it as inherently hostile and requiring its suppression (technophobia/destruction), sometimes as a mere utility and extension of human ambitions (technophilia/control). In addition, the game proposes an idealized possibility of completion, where organic and synthetic would merge – which, in a Simondonian perspective, is not possible, perhaps not even desirable, as they have different modes of existence, where the ideal perspective would indicate coexistence between both.