O geneticista como curador digital, na ópera La libreta de Califórnia

Resumo

Resumo: A presente pesquisa tem por objetivo refletir sobre os desafios do pesquisador em Crítica Genética na curadoria de processos criativos hipertextuais, em face das modernas tecnologias e mídias de armazenamento que permitem a conexão intermidial dos rastros, vestígios e fluxos criativos para além dos registros escritos, audiovisuais e sonoros. Para tanto, observa-se o procedimento do encenador venezuelano Miguel Issa, na montagem da ópera “La libreta de California”, que reúne e disponibiliza, em seu website, vídeos, fotos e relatos do processo de criação da encenação. A referida ópera tem roteiro de Xiomara Moreno, a partir do conto do escritor José Balza, e música de Gerardo Gerulewicz. Com isso, recorre-se a alguns conceitos, quais sejam: a Criação em Rede (SALLES, 2006) e os Processos de criação em grupo (SALLES, 2017) para abordar-se a relação criativa envolvendo atores, bailarinos e cantores, bem como encenador, libretista e compositor no contexto apresentado; a noção de redes sociais digitais, estética digital e linguagens líquidas (SANTAELLA, 2008), que, em referência a Bauman, estabelece as tecnologias digitais como um ingrediente importante na poética contemporânea, derretendo as fronteiras e visões dicotômicas entre as linguagens artísticas, e anulando as distâncias territoriais do público com o objeto de pesquisa. Consequentemente, privilegia-se os fluxos, trânsitos e transdisciplinaridades entre as artes envolvidas, conforme Arantes (2007), e expande-se a perspectiva semiológica na Crítica Genética Brasileira. Além disso, obtém-se em Bürger(2012) o conceito de montagem como sendo um recurso metodológico ao dispor do geneticista na elaboração, organização ou bricolagem, dos materiais reunidos, colocando-os em relação de complementaridade na reconstituição do processo criativo em foco. Por fim, a presente pesquisa justifica-se nas inúmeras possibilidades de se registrar e compartilhar vestígios criativos apoiados por plataformas tecnológicas contemporâneas como suporte de uma curadoria interpretativa que ressignifica o papel e o propósito do próprio crítico genético.

Abstract: This research aims to reflect on the challenges of the researcher in Genetic Criticism in curating hypertextual creative processes, given the modern technologies and storage media that allow the intermediate connection of creative tracks, traces and flows beyond written records, audiovisual and sound. For that, we observe the procedure of the Venezuelan director Miguel Issa, in the mounting of the opera “La libreta de California”, which gathers and makes available, on its website, videos, photos and reports of the process of creation of the staging. This opera is written by Xiomara Moreno, based on the tale of writer José Balza, and music by Gerardo Gerulewicz. Thus, some concepts are used, such as: Network Creation (SALLES, 2006) and Group Creation Processes (SALLES, 2017) to address the creative relationship involving actors, dancers and singers, as well as director, librettist and composer in the context presented; the notion of digital social networks, digital aesthetics and liquid languages ​​(SANTAELLA, 2008), which, in reference to Bauman, establishes digital technologies as an important ingredient in contemporary poetics, melting the boundaries and dichotomous views between artistic languages, and nullifying the territorial distances of the public with the research object. Consequently, we favor the flows, transits and transdisciplinarities between the arts involved, according to Arantes (2007), and expand the semiological perspective in the Brazilian Genetic Criticism. In addition, Bürger (2012) obtains the concept of montage as a methodological resource available to the geneticist in the elaboration, organization or bricolage of the assembled materials, placing them in a complementary relationship in the reconstitution of the creative process in focus. Finally, this research is justified by the countless possibilities of registering and sharing creative traces supported by contemporary technological platforms in support of an interpretative curatorship that redefines the role and purpose of the genetic critic himself.